quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Mull of Kintyre

Estou fazendo remo desde agosto. A raia olímpica da usp fica bem ao lado da Marginal Pinheiros. Mas, dentro do barco, dentro da raia, os muros ocultam a cidade. Em pleno horário do caos, 18h, ao mesmo tempo de um grande e maluco trânsito, eu estou remando, sem ouvir um som além das pás raspando a água, sem enxergar nada além das árvores, do céu, da lua e da água. São 20 metros paradoxais entre raia e rua.

Todas as vezes que remo, penso nisso. E remar traz a doce paz ilusória de estar momentaneamente fora do sistema, fora da loucura. 4000 metros de liberdade, de ilusão. E isso desperta a velha e muitas vezes apagada vontade de fugir. De viver a vida de um modo racional - desprezando o que consideram racional; de viver uma vida digna e cheia de ideais; de viver a pureza e a simplicidade da vida. Por isso admiro fortemente o Chris McCandless. Não por ele querer viver a vida de um jeito racional, mas por ele ter vivido assim.

Mas, sinceramente, não sei a que ponto fugir seja covardia ou coragem, ou que seja covardia e coragem ao mesmo tempo. Não sei a que ponto meus ideais são puros e nobres ou simplesmente assumo essa posição como defesa, pra justificar uma não adaptação ao mundo. 

Por ideais ou defesa, não importa, muitas vezes sinto-me agoniado pra sair. Eu, tendo consciência do que acho ter, tenho a obrigação moral de fazer alguma diferença, nem que seja na minha vida.